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células tronco e implante coclear

Recentemente, o FDA (Federal Drug Administration) – o órgão que regulamenta os procedimentos médicos nos EUA – autorizou o uso deste tratamento somente para pacientes portadores de deficiência motora. A primeira regra para o pequeno grupo de pacientes selecionados foi a condição segundo a qual todos eles poderiam se candidatar ao tratamento desde que tivessem perdido os movimentos há pouco mais de 15 dias, não mais do que isso. Inevitável abordar este assunto sem passar pela deficiência auditiva. Com os meus implantes cocleares, ouço pais comentarem que preferem guardar a (re)habilitação auditiva de seus filhos para o futuro próximo, com as células-tronco participando diretamente no tratamento destas pessoas que nasceram surdas ou que perderam a audição progressiva ou subitamente, uni ou bilateralmente. É importante considerar vários aspectos antes de abraçar um tratamento como este. Em primeiro lugar, fico imaginando como as células ciliadas auditivas vão se regenerar totalmente a ponto de permitir ao paciente ouvir até o canto de um bem-te-vi lá longe. Como será que isso acontece? É demorado ou pode tomar algumas semanas? O paciente primeiro vai distinguir os sons graves e depois os agudos, vice-versa ou tudo ao mesmo tempo agora? Tantas perguntas, poucas respostas. E não é difícil pensar no risco que se corre em ter as células auditivas regeneradas com um crescimento sem controle, criando até tumores, fato observado em ratinhos de laboratório. Segundo Lygia Pereira, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, “as células-tronco são muitas vezes apresentadas como solução milagrosa para qualquer problema. Isso é sensacionalismo. As terapias realmente comprovadas ainda são muito restritas”.(*) Outra consideração importante: regeneradas as células auditivas, como o ser humano vai “controlar” o volume, tal qual o usuário de AASI (aparelho de amplificação sonora individual) ou de implante coclear, naquela situação onde o barulho é infernal, considerando que o órgão auditivo, uma vez regenerado, estará 24 horas ligado num paciente que não ouvia absolutamente nada? Hoje, quando vou dormir, deixo os meus dois processadores de fala dentro de um desumidificador, com sílica-gel. Durmo tranqüilo, sem a interferência de sirenes, rojões que comemoram os 100 anos de meu todo poderoso timão ou o ronco “suave” de minha querida esposa (que ela não nos ouça!). Hoje, a fonoaudióloga tem o controle absoluto de minhas necessidades auditivas para ajustar o melhor limiar sonoro, a auto-sensibilidade, o volume e outras estratégias de comunicação cibernéticas. Guardar o tratamento para o futuro, sem estimular o nervo auditivo com alguma prótese, será benéfico? Eu que fiz as cirurgias de implante coclear bilateral sequencialmente, tendo um espaço de tempo de três anos entre o ouvido esquerdo e o direito, já senti uma diferença real na reabilitação auditiva no lado mais novo. O que dizer em pacientes que estão surdos por uma década? Quando troco uma idéia com a minha filha caçula, eu falo que estes dois processadores de fala que uso hoje serão realmente peças de museu um dia, assim como os modelos de caixinha ou mesmo as “cornetas acústicas”. Mas isto não significa dizer que eu não posso utilizá-los atualmente, ajustando as freqüências nos mapeamentos, testando estratégias, atualizando a versão do software e estimulando diariamente meus nervos auditivos que um dia estiveram completamente adormecidos. Não sou nenhum pesquisador, médico ou cientista para carimbar o melhor procedimento. Não ganho bem como eles e nem sou tão inteligente quanto. Mas…Esperar o futuro? Quando? Como? Observação: Quero a sua opinião, leitor(a) amigo(a). Ela é sempre importante quando se fala em tratamento auditivo por células-tronco. (*) Trecho extraído de matéria publicada no jornal “Folha de São Paulo”, do dia 22.08.2010, na seção “Ciência”, sob o título “Cientistas atacam cura com célula-tronco”, caderno A26.

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